segunda-feira, 18 de junho de 2012

Aprendi a viver com simplicidade, com juízo,
a olhar o céu, a fazer minhas orações,
a passear sozinha até a noite,
até ter esgotado esta angústia inútil.

Enquanto no penhasco murmuravam as bardanas
e declina o alaranjado cacho da sorveira,
componho versos bem alegres
sobre a vida caduca, caduca e belíssima.

Volto para casa. Vem lamber a minha mão
o gato peludo, que ronrona docemente,
e um fogo resplandescente brilha
no topo da serraria, à beira do lago.

Só de vez em quando o silêncio é interrompido
pelo grito da cegonha pousando no telhado.
Se vieres bater à minha porta
é bem possível que eu sequer te ouça.


1912, Anna Akhmátova

(Outra poesia da minha poeta preferida: esta é para a Caroli...
Ainda vamos à Alcala de Henares - a terra das cegonhas - novamente; com o Paulo dessa vez.)