sexta-feira, 31 de julho de 2009

CANZONE DELL'UOMO INFEDELE

Il mio uomo è uguale al Signore
il mio uomo è uguale agli dei:
se lui mi tocca
il mio sangue mi scorre rapido
sotto la pelle scura
e sento bramosia d'amore
chiara, infinita, come la parola.
Il mio uomo è una chitarra dolcissima
e io sono la sua canzone
ma lui non mi canta mai,
perchè?
aspetto che la chitarra si rompa
PER VIVERE.
Il mio uomo è uguale agli dei
è uguale a Rilke a Giuda a Savonarola
ma quando lui se denuda
ha il petto villoso come le aquille
e il rostro che ferisce a fondo
allora gli mostro le mie molte ferite
e il mio uomo se ne dimentica
e corre dietro alle facili donne
dalle chiome dorate
perchè lui è un magnifico uomo
perchè lui è un magnifico iddio.

Alda Merini - Poesie Scelte
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CANÇÃO DO HOMEM INFIEL

O meu homem é igual ao Senhor
o meu homem é igual aos deuses
se ele me toca
o meu sangue corre rápido
sob a pele escura
e sinto vontade de amar
clara, infinita, como a palavra.
O meu homem é uma guitarra doce
e eu sou a sua canção
mas ele não me canta mais,
por quê?
espero que a guitarra se rompa
PARA VIVER.
O meu homem é igual aos deuses
é igual a Rilke, a Giuda, a Savonarola
mas quando ele se despe
tem o peito peludo como as águias
e o rosto que fere fundo.
Agora mostro a ele as minhas muitas feridas
e o meu homem as esquece
e corre atrás das mulheres fáceis
de cabelos dourados
porque ele é um homem magnífico
porque ele é um deus magnífico.
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Esse poema aí acima é a propósito da pergunta de uma colega tri gente fina (de um projeto novo onde estou começando a trabalhar), que eu não via há três meses
Me perguntou, na reunião de ontem, se nós já estávamos morando juntos: "E aí, já tá morando com ele?"
Me doeu a resposta. Mentirosa, pela metade, que não convence ninguém: "não, não estamos!"
Da segunda pergunta, a resposta foi mais mentirosa, mais pela metade e menos convincente ainda:" não!"
...infinitamente mais dolorida: "ele não está!!!"
(Aquele que me conhece - pelo avesso! De quem sou canção (amor) e flor - sabe qual foi a segunda pergunta.)

quinta-feira, 30 de julho de 2009

Vive dentro de mim
a mulher da vida
Minha irmãzinha...
tão desprezada,
tão murmurada...
Fingindo alegre seu triste fado.

Todas as vidas dentro de mim:
Na minha vida -
a vida mera das obscuras.


Cora Coralina
in, Todas as Vidas (fragmento).
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(grazzie, Pippo.)

quarta-feira, 29 de julho de 2009

Das Pedras

Ajuntei todas as pedras
que vieram sobre mim

Levantei uma escada muito alta
e no alto subi.
Teci um tapete floreado
e no sonho me perdi.
Uma estrada,
um leito,
uma casa,
um companheiro.
Tudo de pedra.
Entre pedras
cresceu a minha poesia.
Minha vida...
Quebrando pedras
e plantando flores.

Entre pedras que me esmagavam
Levantei a pedra rude
dos meus versos.


Cora Coralina, in Poema da Noite.
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(para mim...)

terça-feira, 28 de julho de 2009

GOZO

tuas mãos
percorrem, hábeis,
todas
minhas curvas estações

Chegamos, depois
de múltiplas paradas,
juntos ao final.


(per te!)

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Quando cadde la bomba
(o meglio, quando qualcuno la gettò)
il corpo fu smembrato
"orrendamente" - scrissero i giornalli.

Fu allora che me dissero:
se tu riunisci i pezzi
l´anima tornerá


Marina Mariani (in, POESIE SCELTE
- Poeti Italiani Contemporane)
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Quando cai a bomba
(ou melhor, quando alguém a atira)
o corpo é desmembrado
"horrivelmente" - escrevem os jornais

Foi então que me disseram
se reunires os pedaços
a alma voltará
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domingo, 26 de julho de 2009

Corre, Bárbara, corre

Percebi, surpresa, que quando corro, esqueço da desesperança (para não dizer desespero) em que me encontro.
E aqueles motivos para correr, que normalmente as pessoas não gostam e muitas vezes temem, passaram a ser para mim, motivos de prazer. Pelo alívio, esquecimento ou leveza - de alma - que me podem dar.
Corre, Bárbara, corre: foge da tua dor!
Corre para o õnibus, para o trem.
Corre para não se atrasar.
Corre para o bar - ouvir música, ver gente.
Corre de medo de ladrão - de madrugada quando chegas.
Corre, por correr: para lugar nenhum (não te dói mais o lado direito - doía antes, como se fosse a vesícula - investiguei; fiz até uns exames bem delicados: minha vesícula está ótima.) agora que não dói mais lado nenhum. A não ser o lado esquerdo, onde se aloja a alma: esse dói toda a dor. Não sei quando vai parar.
Talvez se eu correr muito; talvez se eu correr até a Espanha (até Vigo. Não, até Vigo, não!) ou até a Itália - lá no calcanhar - pare de doer, a falta que tu me faz.

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(Um dia vi um filme: "Corre, Lola, corre". Gostei muito. Gostamos.)

sábado, 25 de julho de 2009

tudo é possível para quem escreve

escritores
(inventam histórias:
vidas, pessoas)
inventam amores

(alguém me perguntou, depois de ler a crônica sobre ele, se eu tinha inventado o Jairo Klein!!!)
NUVENS SOBRE A FLORESTA...
Sombra com sombra a mais...
Minha tristeza é esta -
A das coisas reais.

A outra, a que pertence
Aos sonhos que perdi,
Nesta hora não me vence;
Se a há, não a há aqui.

Mas esta, a do arvoredo
Que o céu sem luz invade,
Faz-me receio e medo...
Quem foi minha saudade?


Fernando Pessoa

sexta-feira, 24 de julho de 2009

pouco me importa ele

pouco me importa
o que ele faz
(se escreve!)
Se está vivo,
ou, se já morreu.

Me importo
com as promessas de cama e mesa

Com o frio,
com a alma (a pesar):
de vazio tamanho.

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(para o Paulo)

quinta-feira, 23 de julho de 2009

freddo


vento, muito, Minuano
na mais fria noite (do ano).

animais todos, aos pares,
atracados: xifópagos
Antropófagos!

(per te...!)

quarta-feira, 22 de julho de 2009

Se eu fosse (animal) irracional
teria mergulhado, inteira - em ti -
nos teus olhos de céu

Teria completado o abraço
teria acertado o beijo:
não teria soltado a mão.


(...per te)

terça-feira, 21 de julho de 2009

TREM-BALA

a tua ausência
é atropelo de trem-bala
da locomotiva
ao último vagão
despedaça por completo

só não mata.

Cezar Dias

domingo, 19 de julho de 2009

"DÓI-ME A ALMA como um corpo..."

Fernando Pessoa, 15-3-1932

sexta-feira, 17 de julho de 2009

FALHEI. Os astros seguem seu caminho.
Minha alma, outrora um universo meu
É hoje, sei, um lúgubre escaninho
De consciência sob a morte e o céu.

Falhei.Quem sou vive só de supô-lo.
O que tive por meu ou por haver
Fica sempre entre um pólo e outro pólo
Do que me nunca há-de pertencer.

Falhei. Enfim! Consegui ser quem sou,
O que é já nada, como a lenha velha
Onde, pois não valho senão quanto dou,
Pegarei facilmente uma centelha.

Fernando Pessoa, in POESIA (1-11-1033)

quinta-feira, 16 de julho de 2009

Como é bonito o Jairo Klein!

Fiquei sabendo que tinha um sarau poético-musical na Casa de Cultura: algo de assombração ou sobrenatural, do Mário Quintana, com entrada gratuita.
(De graça é bom quando se está durissíma como eu!)
Via de regra não gosto destes saraus - mesmo amando música e poesia - porque acho, quase sempre, monótonos. No entanto, quando vi o nome Jairo Klein, prontamente marquei na minha agenda: 16 de julho, às dezenove horas. Estava louca para ver esse ator de novo: adoro esse cara!
A primeira vez que o vi - há alguns anos - fazia uma performance muito boa do Fernando Pessoa, ele mesmo, e seus heterônimos (isso já era motivo suficiente para, eu e o Paulo, gostarmos dele).
Pra falar a verdade sei quase nada do Jairo, sei que é um ator conhecido e que associei o nome dele ao do maior poeta do mundo: Fernando Pessoa. Para mim o que importa mesmo é que vou com a cara dele, e ponto. Sei que ele é afetuoso e viajante. Me parece muito generoso, muito gente!
Fui à Casa de Cultura para vê-lo e não me arrependi nem um segundo, nem que ele trocasse todas as palavras dos poemas, me importaria. Ele tem uma presença encantadora no palco: algo de Morrisey, algo de anjo. Com força, fragilidade e beleza na medida.
No final, ao cumprimentá-lo, ele me deu, além de um abraço carinhoso - para a minha surpresa e alegria - endereços eletrônicos (email, blog) e o telefone de casa para combinarmos um café (ou um bar) num dia desses: quando ele voltar da viagem a Portugal.

quarta-feira, 15 de julho de 2009

um livro muito especial

Me pediram, hoje à tarde, para que eu ficasse um pouco com uma turma de quarto ano, enquanto a professora resolvia uns assuntos com a orientação da escola.
Quando cheguei na sala, que fica no segundo piso, a porta estava fechada. A voz firme da professora Leonor me fez parar antes de bater: ensinava matemática aos alunos. A aula estava tão boa que resolvi esperar um pouco.
Depois de alguns minutos bati à porta. Leonor falou aos alunos que estavam em meio a uma explicação importante, logo, ela não iria deixar nenhuma atividade outra para eles; que eles se comportassem, que ela não queria queixa alguma... e, sem banheiro!
Eu, carregava comigo um livro de crônicas; resolvi, então, contar-lhes uma história. Escolhi a que dava título ao livro: de um cão chamado Shark, um bull terrier que levou uma facada nas costas ao atacar alguém que tinha ajudado a criá-lo.
As crianças adoraram e quando souberam que o texto era de um namorado meu, que a história era de verdade e tinha acontecido na minha cozinha, ficaram muito curiosos. Queriam saber se as outras histórias do livro eram também do " meu namorado" (disse que era "ex", eles não me deram ouvidos: estavam tão próximos do escritor e dos personagens, que eu não quis quebrar o encanto...) e, o melhor de tudo, se tinha aquele livro na biblioteca?
A coisa não parou aí. Na hora do recreio, me surpreendi mais ainda. Um dos alunos daquela turma se aproximou e disse com ar importante: "Gostei da história! Vamos até a biblioteca, ver se tem lá!"
Fui com ele; reviramos a biblioteca da escola à cata do dito livro: não tinha.
Com recomendações de todo cuidado, emprestei-lhe o meu. E que me devolvesse sem demora, porque esse é um livro muito especial.
Acho que plantei uma sementinha - a da curiosidade de ler - não só no pequeno Ruan, mas em toda a Turma 43. Por conta disso, ganhei a tarde - o dia - e uns beijos a mais.

terça-feira, 14 de julho de 2009

Não: nada quero, nada vou querer.
Só o silêncio, que me dói saber
Que nada sou nem quero, me vem dar
A sensação de nada desejar.

Bem sei: há rosas em jardins de alguém;
No alto do céu a lua brilha bem;
O amor é jovem sempre, e o fado mudo.
Mas nada quero, pois negar é tudo.

Talvez que noutro clima do mistério,
Sob outro signo de outro ser sidério,
Se me abra a porta ou se me mostre a estrada...
Neste momento só não quero nada.

Fernando Pessoa, in POESIA (1931 - 1935).

segunda-feira, 13 de julho de 2009

me dei um livro

Me dei um livro de presente: um livro de poesias chamado POESIA!
Quer um livro de poesias melhor, do que um chamado POESIA do Fernando Pessoa!?!
Me dei. Para mim, e para ti. (No começo e no fim, poesia): do poeta maior.

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TENHO ESPERANÇA? Não tenho.
Tenho vontade de a ter?
Não sei. Ignoro a que venho,
Quero dormir e esquecer.

Se houvesse um bálsamo da alma,
Que nos fizesse sossegar,
Cair numa qualquer calma
Em que, sem sequer pensar,

Pudéssemos ver toda a vida,
Pensar todo o pensamento -
Então...

Fernando Pessoa - in POESIA (1931 - 1935 e não datada)

domingo, 12 de julho de 2009

pau de chuva

Os pais do namorado de minha filha, Camila, que estão no Brasil, vieram hoje nos visitar.
Após o jantar fomos todos, sem pensar duas vezes - porque o frio intenso exigia - para perto da pequena lareira, repartir nossas histórias.
Enquanto conversávamos eu comecei a manusear um ojeto (de cana de bambu), que trouxe de Florianópolis no verão de uns anos atrás.
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Francisco, o pai, aos sessenta anos, nunca tinha visto um pau de chuva, esse objeto artesanal, feito de bambu, que imita o som da chuva e que se usa como instrumento de percussão: ficou encantado como uma criança e fez chover durante um bom tempo na minha sala.
Julia, disse, quase duvidando da ignorância do marido: " Tu vives nas nuvens de Quito! "
Para completar, ele perguntou se aquilo crescia em árvores...
A risada foi uma só.

sábado, 11 de julho de 2009

faltando um pedaço

Depois de me entorpecer de Jazz, num bar do centro da cidade, descobri lá pelas três da manhã conversando com um amigo, que o Chet Baker, aquele trumpetista maravilhoso, que era chamado de baby face - por ter feições delicadas e bonitas - um dia numa briga feia, de bebedeira, perdeu, além da beleza, todos ou quase todos os dentes.
Teve que reaprender a tocar.
Conseguiu, mas sem a perfeição de antes: tinha, então, limitações.
Aprendeu a viver e a tocar desse modo.

Me parece que eu, assim como ele, vou ter que reaprender a viver faltando um pedaço vital: aquele que dava sustento à alma. Que punha viço na flor e um riso, sempre pronto, na boca.
O VENTO tem variedade
Nas formas de parecer.
Se vens dizer-me a verdade,
Porque é que ma vens dizer?
Verdades, quem é que as quer?

Se a vida é o que é,
Então está bem o que está.
Para que ir pé ante pé
Até ontem e até já
E até onde nada há?

Enrola o cordão à roda
Do teu dedo sem razão.
Tudo é uma espécie de moda
E acaba na ocasião.
Desenrola esse cordão!

Fernando Pessoa - in POESIA 1931 -1935
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( para o Paulo.)

quinta-feira, 9 de julho de 2009

"Nem parei para pensar de onde vinha a minha raiva repentina, só senti que era alaranjada a raiva cega que tive da alegria dela. E vou deixar de falação porque a dor só faz piorar..."

fragmento do romance Leite derramado, Chico Buarque.

quarta-feira, 8 de julho de 2009

coisas de mulher

Hoje fui a um ginecologista - esse médico que trata das partes mais intimas da mulher - que eu não conhecia: um ótimo profissional e, além disso, um gentleman, conforme a opinião, que prezo, de uma colega, a Nara.
Tive uma primeira impressão muito boa do tal médico.
Após me examinar ele comentou que o útero estava intacto e bem pequeno, o que é um bom sinal. E a vagina, tranquila.
Achei graça: se ele soubesse o quão é o contrário disso, essa parte do meu corpo que não se acomoda - e quer sempre todo prazer que lhe é de direito por natureza. (Inclusive, do parto normal!)
Ele me deu razão quando lhe disse que as mulheres todas deveriam usar mais vestido e menos calças...

Aprovou, certamente, esse meu hábito cigano. Ah, e o sabão de glicerina, também.

segunda-feira, 6 de julho de 2009

Hora da sesta

Hora boa a da sesta. Para os pais, hora de descanso, de dormir ou de, não raro, fazer filhos. Para nós, a hora mais esperada do dia. Antes de se recolherem, os pais, inocentes, ainda alertavam: "não façam arte!" As crianças sacudiam energicamente a cabeça, concordando. E iam, sem culpa, aproveitar a liberdade passageira. Nos encontrávamos, sem combinação prévia, eu, meu irmão Paulo, e nossos primos, Amanda, Cláudio e Marina. Todos sonolentos, o almoço ainda pesando nos estômagos. Íamos para a parte de trás da casa e, preguiçosos como os gatos que cochilavam ao sol, arquitetávamos nossos planos. Aonde iríamos hoje - quem assaltaríamos? A despensa do tio Eugenio estava lotada de bolachas, feitas na véspera, para o Natal – pinheiros, papais-noéis e estrelas – cobertas com glacê, branquinho, de açúcar e confeitos coloridos. Só de lembrar dava água na boca.
E as compotas de pêssego que meu pai fazia, que delícia! Se pegássemos umas poucas e esparramássemos as demais pelas prateleiras, ele nem notaria, tantas eram.
Mas o que eu gostava mesmo era dos pepinos e cebolas em conserva; gosto um tanto inesperado em crianças, mas comum nos pequenos colonos.
Ah! Tinha ainda as lingüiças e os torresmos da casa da Marina. E no pomar do tio Eugênio, todas as cores e aromas: morangos, pêras d’água, bergamotas, laranjas de umbigo, romãs, araçás. Com tantas opções ficava difícil escolher onde ir primeiro.
Mas mesmo crianças tinhamos as nossas próprias leis: a decisão da maioria seria respeitada. Essa era a nossa regra número um. A segunda, era nunca deixar que nos descobrissem.
Só o Mano, empregado do primo Ervino é que sabia das nossas travessuras diárias (e de certa forma, nos cuidava). Fazia a sesta à moda dos mexicanos, com um chapéu protegendo-o do sol forte de depois do meio-dia. Cochilava ali mesmo na calçada da venda, encostado à parede, e, volta e meia, nos espiava através da aba esburacada do enorme sombreiro.
Na boca um tímido sorriso de aprovação.

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(Esse texto, encontrei perdido no meu computador, junto com um haikai do Paulo: é de 2000!)

sexta-feira, 3 de julho de 2009

"O barco de cada um está em seu próprio peito"
( Provérbio macuá.)

in, Cada Homem É Uma Raça - Mia Couto

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Bebe Revolvió




Por qué fue suficiente
Hablarle con los ojos
Desde allí
Si en ese mismo instante
Su vida era tranquila
Y feliz

La vino a revolver
Con bollitos y miel
Mareas en la tierra
El cielo iba cubriéndose de gris
Porque salió en torrente
El miedo y las ganas de sentir
Y quiso saborear
La masa de su pan

Revolvió su calor, con su voz
Con leche y azúcar se lo dio a beber
Moldeó el corazón,la razón
Con unos besos de ron y miel
Horneó con su aliento su pelo
Y caramelo parecía al terminar
Y quiso saborear
La masa de su pan

Escríbele canciones
Envíale tu voz donde él esté
Nadando por su almohada
Le vino a visitar en sueños él
La vino a revolver
Y se dejó hacer
Estampidas en la tierra
El cielo iba tiñéndose marfil
Porque brotó en torrente
El verbo y las ganas de sentir
Y pudo saborear
La masa de su pan

Revolvió, su calor, con su voz
Con leche y azúcar se lo dio

Pafuera Telaraña
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(da Caroli, de Madri, no meu aniversário.) Gracias, hija. "La masa de su pan..." Me fez chorar!
Mãos, farinha, massa de pão: uma crônica!
Quantos pães. Todos pães. Qualquer pão. Pãozinho, pizza, cuca, pão: de aveia, mel, de aipim, de queijo, de linguiça, folhado (de canela e passas), de triguilho, de inhame, de batata, de banana. Integral, branco, pãozinho de maçã, pão para couvert. Pão nosso de cada dia. Benditos pães, que nunca me negam o prazer de bemfazê-los.
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foto by Caroli: eu, com a mão na massa - casa do Urso - Madri.

quarta-feira, 1 de julho de 2009

aniversário

Com fraturas não expostas e feridas que não fecham, fiz, hoje, aniversário.
(A vida começa quando se nasce - ou nove meses antes.
E aos quarenta, aos vinte e cinco - aos trinta e oito -
em qualquer idade começa.
e quando é que acaba a vida?)
Fui para o trabalho e voltei para casa, como se fosse um dia qualquer; e é (menos para mim, o Leandro, e tantas outras pessoas que nasceram no primeiro dia do mes de julho).

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Conheci Leandro na fila do direto das onze.
Ele se virou para mim e perguntou o meu nome.
Depois me disse (cheio do trago que estava),
"com todo o respeito, moça, você é muito simpática, bonita."
Me mostrou uma lata grande de cerveja escondida sob o casaco
e se saiu com mais esta: "Hoje tudo é festa, é meu aniversário!"
Nem pude acreditar!
Fiquei quieta no meu aniversário sem festa, sem parabéns pra você,
sem pão-de-ló, sem Presentes; com parcos abraços e beijos.
Feliz aniversário Leandro.