Conheci a Elis há pouco mais de um mês. Trabalhamos na mesma escola num bairro da periferia - não da Freguesia do Ó - de freguesia bem carente.
Tirando o nome, Elis Regina, nada me chamava a atenção nela: cheinha e com um certo ar de bem aventurança, próprios de quem não se importa com uns quilinhos a mais.
Pensava que era mais uma, entre tantas, professoras mal remuneradas, com turmas superlotadas, cujo trabalho não é valorizado e por esses motivos e tantos outros, na maioria das vezes desgosta do que faz. Assim pensava até o dia que fui ajudá-la com uma tal de Prova Brasil - uma série de perguntas que seus alunos de segundo ano teriam que responder numa espécie de livreto.
Ela, a Professora Elis, me surpreendeu já na condução da tal prova: apresentou-a de tal modo às crianças que ficou mais parecendo uma brincadeira. Falou para a gurizada que eles iriam, naquela tarde, fazer algo diferente: escreveriam num livro - Que beleza! - cada um as suas respostas.
Ah! E para completar ela ainda contaria uma história!
Os pequenos exultaram e a Elis, nesse momento, se transformou, se encheu de graça.
À medida que ela contava eu me encantava... Os alunos mal respiravam, mas quando a professora colocava as duas mãos próximas à boca e, como se fosse um segredo e um privilégio, dava aquela risada de lobo só para eles, aí respondiam da melhor forma rindo a não poder mais. No final, me ganhou de fã: foi a melhor contadora de histórias infantis que já vi.
Perguntei, outro dia, à Elis de onde ela tirava tanto jeito para contar histórias; se ela havia feito algum curso de teatro... " Meu pai era um exímio contador de histórias!", me disse orgulhosa. E começou a me contar uma que gostava de ouvir.
Se eu deixasse ela ainda estaria me contando suas histórias, porque Elis tem uma vitalidade de fazer inveja a qualquer um.
Um comentário:
Um dia ainda vou ouvir uma história dessa Elis. Gostar de alguém pelas palavras, não é estranho?
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