domingo, 28 de fevereiro de 2010

VISÃO

Vi em ti o poeta.
Abraçando-te, abracei imaterialmnete o poeta.
Nunca nenhum outro me deu
a sensação de poesia transparente.
Não vi em ti o homem efêmero
sujeito aos safanões da vida.
Vi em ti o verso
- puro, luminoso, cristalino =
independente de ti, superior a ti,
acasalando no ar as suas células rítmicas.

Carlos Drummond de Andrade

sábado, 27 de fevereiro de 2010

ESDRUXULARIAS DE AMOR PENITENTE

Neste só, nestas brenhas
aonde não chega a música
da voz de Dulcinéia
que por mim não suspira
e mal sabe que existo,
vou fazer penitência
de amor.
Vou carpir minhas penas,
vou comover as rochas
com lavá-las de lágrimas,
vou rompê-las de grito,
ensandecer as águias,
cativar hipogrifos
e acarinhar serpentes,
vou
arrancar minhas vestes
de ferro e de grandeza
e sacar os calções
e de gâmbias de fora,
documentos do sexo
cinicamente à mostra
para que aves e plantas
desfrutem o espetáculo,
farei micagens mil,
plantarei bananeira
e darei cambalhotas,
saltos mortais, vitais
de amor
de amor
de amor.

Carlos Drummond de Andrade.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

coceira

Havia um dito popular, não muito inocente, que minha vó Santa costumava repetir, que quando uma mulher tem coceira no bico do seio, ou seja, no mamilo, é porque tem um homem com vontade dela. (O que se chama, hoje em dia, de tesão.)
Pois é, em algum lugar do mundo, que eu não tenho a menor idéia qual seja, deve ter alguém, que eu sei menos ainda, me querendo muito: meu seio esquerdo não para de coçar.
Acho que é a curiosidade coçando para saber quem é esse louco que me quer.