Neste só, nestas brenhas
aonde não chega a música
da voz de Dulcinéia
que por mim não suspira
e mal sabe que existo,
vou fazer penitência
de amor.
Vou carpir minhas penas,
vou comover as rochas
com lavá-las de lágrimas,
vou rompê-las de grito,
ensandecer as águias,
cativar hipogrifos
e acarinhar serpentes,
vou
arrancar minhas vestes
de ferro e de grandeza
e sacar os calções
e de gâmbias de fora,
documentos do sexo
cinicamente à mostra
para que aves e plantas
desfrutem o espetáculo,
farei micagens mil,
plantarei bananeira
e darei cambalhotas,
saltos mortais, vitais
de amor
de amor
de amor.
Carlos Drummond de Andrade.
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