quarta-feira, 30 de março de 2011

Pássaros


A casa, construção de palha e ramagem, é muito maior que seu habitante.
Mas erguer a casa, no meio do mato espinhoso, leva apenas um par de semanas. A arte, por sua vez, exige muito tempo de trabalho.
Não existem duas casas iguais. Cada um pinta sua casa como quer, com pintura feita de sementes amassadas, e cada um a decora à sua maneira.Os arredores são cercados com tesouros arrancados da montanha ou do lixo de alguma cidade vizinha: as pedrinhas, as flores, os cascos dos caracóis, as ervas e os musgos se colocam buscando harmonia; e as tampas de garrafas de cerveja e os pedacinhos de vidros coloridos, de preferência azuis, desenham anéis ou leques no chão. As coisas vão mudando mil vezes de lugar, até encontrar o melhor para receber a luz de cada dia.
Não é à toa que esses pássaros são chamados de caseirinhos. Eles são os arquitetos mais alegres de todas as ilhas da Oceania.
Quando conclui a criação de sua casa e de seu jardim, cada pássaro espera. Espera, cantando, que passem as pássaras. E que uma delas detenha seu voo e veja sua obra. E o escolha.

in Bocas do Tempo, Eduardo Galeano

(para o Paulo: a tatoo.)

Nenhum comentário: