Tenho tido dificuldades em escrever em forma de prosa: o meu pensamento anda sempre em voltas. É mais fácil um poema... Mas que poesia há em uma menina de cinco anos aprender a ler com a própria mãe?
Toda poesia do mundo!
Que não vai virar poema. É só uma história a propósito de um Pós, pago por uma prefeitura qualquer para que seus professores sejam melhores professores. Tais cursos, porém, não ensinam a sensibilidade. Ela está na gente.
Numa noite dessas, duas semanas atrás, uma palestrante paulista falava sobre como são importantes os professores que alfabetizam. E perguntou quantos ali eram alfabetizadores. Várias levantaram as mãos. Digo várias porque eram mulheres, todas. Parece que só as mulheres sabem ensinar a ler.
Me veio à memória, então, o momento exato em que li a minha primeira palavra, escrita numa caixa onde se guardavam barras de sabão.
Eu disse bem alto para minha mãe: sei o que está escrito lá - apontando a caixa de madeira -, é PELOTAS!
Ela, a minha primeira professora, exultou.
E, dali por diante, eu lia tudo que via pela frente, árvore bicho céu pedra livro. E as casas e os quintais.
Preferia isso a qualquer brinquedo de criança.
Assim cresci. Bem mais tarde descobri que era míope.