domingo, 11 de dezembro de 2011

A BARCAÇA

Ele embarcou numa mulher
(Um dia, foi numa cidade:
a vida cigana de então
pedia porto onde ancorasse.

Em Sevilha matriculou-se:
se nele é meteco, ninguém
habitou mais fundo esse porto
nem o soube do quê ao quem).

Hoje embarcou numa mulher.
Recifense, ele a chama de barcaça,
que é o barco mais feminino,
é mulher feita barco e casa.

Mas nunca fez por anular
o registro de barca antiga;
na barcaça pernambucana
na proa se lê: "Sevilha".

João Cabral de Melo Neto


Nenhum comentário: