domingo, 13 de novembro de 2011

TECENDO A MANHÃ

Um galo sozinho não tece uma manhã:
ele precisará sempre de outros galos.
De um que apanhe esse grito que ele
e o lance a outro; de um outro galo
que apanhe o grito que um galo antes
e o lance a outro; e de outros galos

que com muitos outros galos se cruzem
os fios de sol de seus gritos de galo,
para que a manhã, desde uma teia tênue,
se vá tecendo, entre todos os galos.

E se encorpando em tela, entre todos,
se erguendo tenda, onde entrem todos,
se entretendendo para todos, no toldo
(a manhã) que plana livre de armação.
a manhã, toldo de um tecido tão aéreo
que, tecido, se eleva por si: luz balão.


JOÃO CABRAL DE MELO NETO
(A Renata chegou de Floripa... me lembro dela cantando com os galos,
tecendo manhãs em Ponta das Canas, há alguns anos.)

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