sábado, 20 de novembro de 2010

Negro

Pesa em teu sangue a voz de ignoradas origens
As florestas guardaram na sombra o segredo da tua história

A tua primeira inscrição em baixo-relevo
foi uma chicotada no lombo

Um dia
atiram-te no bojo de um navio negreiro
e durante noites e noites
vieste escutando o rugido do mar
como um soluço no porão soturno

O mar era um irmão da tua raça

Uma madrugada
baixaram as velas do convés
Havia uma nesga de terra e um porto
Armazéns com depósitos de escravos
e a queixa dos teus irmãos amarrados em coleiras de ferro

Principiou aí a tua história

O resto
a que ficou pra trás
o Congo as florestas e o mar
continuam a doer na corda do urucungo


Raul Bopp,
em Cobra Norato e outros poemas

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