O PASTOR AMOROSO perdeu o cajado,
E as ovelhas tresmalharam-se pela encosta,
E, de tanto pensar, nem tocou a flauta que trouxe
para tocar.
Ninguém lhe apareceu ou desapareceu. Nunca mais
encontrou o cajado.
Outros, praguejando contra ele, recolheram-lhe as
ovelhas.
Ninguém o tinha amado, afinal.
Quando se ergueu da encosta e da verdade falsa,
viu tudo:
Os grandes vales cheios dos mesmos verdes de
sempre,
As grandes montanhas longe, mais reais que
qualquer sentimento,
A realidade toda, com o céu e o ar e os campos que
existem, estão presentes.
(E de novo o ar, que lhe faltara tanto tempo, lhe
entrou fresco nos pulmões)
E sentiu que de novo o ar lhe abria, mas com dor,
uma liberdade no peito.
poema de Alberto Caeiro.
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