quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

sinos de Belém



Tenho um colega, o Carlos, que numa das vindas do trabalho para Porto me falou sobre a etmologia da palavra companhia (a propósito da boa companhia dos dois, dele e do Juliano). Vem de companheiro, o que implica companheirismo, amizade; no final das contas, amor. Que encontramos em qualquer pessoa, não necessariamente companheira; nem tão pouco amiga: só generosa e de bom coração. É o caso desse Carlos que me ofertou ombro numa desesperada manhã de agosto - corajoso Carlos, era feio o quadro e ele teve sucesso.
E é por querer muito bem a meu irmão e à mulher que vou quase todas as tardes ao Hospital Moinhos de Vento fazer companhia a ela, que está lá há exatos vinte e dois dias porque uma bactéria ingrata se alojou em sua coluna de ébano, provocando toda espécie de dor.
Nós, visitas ou acompanhantes dos pacientes - que têm mesmo que ter muita paciência -, inventamos e reinventamos histórias para distrair dores doenças medos. Se dá muita risada, se brinca, se fala muita bobagem naquele quarto de hospital onde está a Cátia (é este o nome da minha cunhada), que de uma certa forma até relaxo quando estou ali. Ontem, porém, foi um pouco diferente.
Quando saí do elevador, vi o séquito de mulheres cantantes corredor adentro. Logo alcancei o pequeno grupo e me deixei envolver pelo canto de Natal : " toca o sino pequenino, sino de natal, já nasceu Jesus menino para o nosso bem ". Nessa hora não me fez nenhum bem: olhei para a Cátia, sempre tão disposta e alegre, parada à porta do quarto com toda aquela parafernália do soro, longe das crianças há tantos dias, se fazendo de forte com um sorriso triste nos lábios resignados. Que bem há nisso?
Abracei-a com os olhos cheios d'água. Ela me disse, disfarçando, que o coral passava todas as tardes de quinta e que já não se emocionava.
Não fui uma boa companhia nesse dia - lembrei que algumas datas não felizes para mim estão bem perto...
Saí triste dos moinhos. Acabrunhada.
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foto by maira - Esculturas no Porto Velho, Barcelona.

Um comentário:

Luciano Paltian disse...

Tou curtindo teu blog, Maira, bonito o tom do teu texto. Acho que tu escreve com gosto. Até.