quinta-feira, 7 de maio de 2009

Antônia

"Maira tu sabes que eu tenho uma filha?", me disse uma vizinha de cinquenta e tantos anos que tem dois filhos já adultos.
Estranhei, mas compreendi o desejo dela em repartir a boa nova. (Talvez o fato de eu ter filhas, tenha provocado essa vontade.) A menininha está com quatro meses, se chama Antônia e, pelo que entendi, os papéis da adoção ficaram, enfim, prontos.
Eu varria a calçada em frente à minha casa quando a ví atravessando a rua; não tinha a mínima idéia do que teria para me dizer. Mas ela vinha com uma cara tão desarmada que percebi, surpresa, que era alguma coisa muito boa. Ví, então, que essa mulher maldosa e afeita à intrigas, tem também um lado bom; generoso. Me contou que Antônia nasceu no dia vinte e dois de dezembro e apenas dois dias depois saía do hospital com eles, ela e o marido: um verdadeiro presente de Natal.
Eu não sabia muito o que dizer perante a felicidade dessa mulher que eu não falava há tanto tempo - mesmo cruzando por ela na rua e no supermercado aqui do bairro - por causa de um cão bull terrier que tínhamos, e de uns comentários nem um pouco inocentes sobre uma pessoa amiga.
Tive a impressão que ela se deu conta disso; me olhou com um pedido antigo de desculpas no olhar. Eu não disse palavra. Um minuto depois, falou: " Aparece ali em casa para conhecê-lä."
Me soou sincero e isento de qualquer maldade o convite. Respondi no mesmo tom: " Vou sim! "
E vou mesmo conhecer a pequena Antônia. Logo, logo. Porque, como dizia minha avó, criança cresce como erva ruim.

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