sábado, 9 de maio de 2009

um diário


Estamos num boteco qualquer do Mercado Público; eu escrevia não me lembro o quê - talvez sobre Antônia, a menina adotada por uns vizinhos da minha rua - no meu pequeno caderno de papel reciclável que está sempre à mão para as frequentes necessidades de escrever dos últimos tempos.
Comento com o Paulo sobre o quanto é deliciosa essa bebida, a caipirinha, e o quanto eu gosto daquelas bolinhas - que rebentam na boca - do limão.
Ele me pergunta, me vendo com a caneta e o caderno, se eu já tinha lido o Diário do Antônio Maria. Disse que não e ele diz que tenho que ler; que eu adoraria!
O Paulo me conta que foram apenas quarenta dias. Só quarenta dias, nos quais o escritor escreveu em dois caderninhos, como esse meu, que viraram um livro (lindo, lindo!).
Me passou, rápida como um relâmpago, uma idéia pela cabeça. É a solução para a precisão de escrever, que me acomete e que anda, de um certo modo incomodando: um diário!
Porque mesmo sabendo, tendo certeza, que forma e tamanho não importam em se tratando de coisa escrita - e sim a qualidade e a beleza - eu andava querendo transformar tudo que eu pensava e escrevia em crônica. E nem sempre é possível, sem comprometer a beleza e a naturalidade do texto.
E para mim, literário é o texto, que revele - de modo simples e belo, com dor ou não - a ALMA.
Como o Antônio Maria e outros tantos por aí, que sabem escrever a alma de tudo (por que tudo tem alma. Até um muro onde brota um capim; uma flor).
De hoje em diante vou escrever o que tenho para escrever, sem me preocupar tanto com a forma, em um diário.
Quem sabe um dia ele possa lido por muitos e, brindado, quiçá, à mesa de um bar.

para o Paulo.