Vou para o mar
Amar o mar - o verde mar -
pegar uma cor.
Se bem que, de ontem para hoje,
as coisas estão bem mais coloridas
para mim
(e doloridas, também.)
Estou usando aparelho
como nunca tirei os sisos
os dentes sem juízo se acavalaram.
quarta-feira, 23 de dezembro de 2009
segunda-feira, 21 de dezembro de 2009
CADA CANÇÃO
Cada canção
é um remanso
do amor.
Cada estrela
um remanso
do tempo.
Um nó
do tempo.
E cada suspiro
um remanso
do grito.
.....................
Federico García Lorca
in ROMANCEIRO GITANO E OUTROS POEMAS.
( Amo, amo esse poema!)
é um remanso
do amor.
Cada estrela
um remanso
do tempo.
Um nó
do tempo.
E cada suspiro
um remanso
do grito.
.....................
Federico García Lorca
in ROMANCEIRO GITANO E OUTROS POEMAS.
( Amo, amo esse poema!)
domingo, 20 de dezembro de 2009
os balanços
Meu pai pendurava balanços nas árvores lá de casa. Um para cada filho: éramos três.
Escolhia o galho mais forte para os pequenos não cairem.
Nós, contentes da vida, íamos ao céu e voltávamos: voávamos, quase, nos balanços.
E o pai se arrependia um pouco, olhando assustado o vôo.
Escolhia o galho mais forte para os pequenos não cairem.
Nós, contentes da vida, íamos ao céu e voltávamos: voávamos, quase, nos balanços.
E o pai se arrependia um pouco, olhando assustado o vôo.
sábado, 19 de dezembro de 2009
A concha vazia
Eu, que sou meio caranguejo, meio concha e - às vezes - metida a sereia, adorei esse poema que encontrei hoje na ZH, de um poeta daqui, o Paulo Neves: A concha vazia.
Abri o jornal, o título "Irretocável poesia" me chamou a atenção, obviamente. Fui ao artigo; eis o poema:
" Refugo do mar jogado na areia.
Vento em rodopio nas suas volutas.
Refúgio do mar, canto de sereia
que o tempo esculpiu. A forma da escuta."
Gostei, também, muito dos outros três poemas presentes ali.
Como será esse Paulo: será uma pessoa amorosa, uma boa pessoa, como é, poeta?
......................
Contradição
Eu esquiava sobre montanhas de dor.
O coração abismado na terra estranha
não compreendia o que era inverno e verão.
A neve ardia em duro combate com a luz.
Nas pernas vibrava uma voz que me dizia:
Segue, não te detenhas na contradição.
Paulo Neves
Abri o jornal, o título "Irretocável poesia" me chamou a atenção, obviamente. Fui ao artigo; eis o poema:
" Refugo do mar jogado na areia.
Vento em rodopio nas suas volutas.
Refúgio do mar, canto de sereia
que o tempo esculpiu. A forma da escuta."
Gostei, também, muito dos outros três poemas presentes ali.
Como será esse Paulo: será uma pessoa amorosa, uma boa pessoa, como é, poeta?
......................
Contradição
Eu esquiava sobre montanhas de dor.
O coração abismado na terra estranha
não compreendia o que era inverno e verão.
A neve ardia em duro combate com a luz.
Nas pernas vibrava uma voz que me dizia:
Segue, não te detenhas na contradição.
Paulo Neves
domingo, 13 de dezembro de 2009
THE BEATLES BALLADS on Sunday
Os quatro de Liverpool e os bichinhos todos na capa do disco, feito a Arca do Noé. Escuto She's leaving home e penso nessa possibilidade. Ali, next to Gasometro: é o meu desejo para 2010.
Por hoje, a minha cota de felicidade, ficou por conta dos violinos da orquestra da PUC e do João Bosco: imperdíveis, ambos.
(... " as granadas de Espanha e as rosas partindo o ar...")
Por hoje, a minha cota de felicidade, ficou por conta dos violinos da orquestra da PUC e do João Bosco: imperdíveis, ambos.
(... " as granadas de Espanha e as rosas partindo o ar...")
domingo, 6 de dezembro de 2009
IDOLATRIA
EU OLHAVA PARA A ESTRADA e tinha a impressão que jamais na vida chegaríamos a Nhuporã. Que pedaço brabo. O camaleão se esfregava no chassi e o pai praguejava:
- Caminho do diabo!
Nosso Chevrolet era um um trinta e oito de carroceria verde-oliva e cabina da mesma cor, só um nadinha mais escura. No pára-choque havia uma frase sobre amor de mãe e em cima da cabina uma placa onde o pai anunciava que fazia carreto na cidade, fora dela e ele garantia, de boca, que até fora do estado, pois o Chevrolet não se acanhava nas estradas desse mundo de Deus.
Mas o caminho era do diabo, ele mesmo tinha dito. A pouco mais de uma légua de Nhuporã o caminhão derrapou, deu um solavanco e tombou de ré na valeta. O pai acelerou, a cabina estremeceu. Ouvíamos os estalos da lataria e o gemido das correntes no barro e na água, mas o caminhão não saiu do lugar. Ele deu um murro no guidom.
- Puta merda.
Quis abrir a porta, ela trancou no barranco.
- Abre a tua.
A minha também trancava e ele se arreliou:
- Como é, ô Moleza!
Empurrou-a com violência.
- Me traz aquelas pedras. E vê se arranca um feixe de alecrim, anda.
Agachou-se junto às rodas e começou a fuçar, jogando grandes porções de barro para os lados. Mal ele tirava, novas porções vinham abaixo, afogando as rodas. Com a testa molhada, escavava sem parar, suspirando, praguejando, merda isso e merda aquilo, e de vez em quando, com raiva mostrava o punho para o caminhão.
O pai era alto, forte, tinha o cabelo preto e o bigode espesso. Não era raro ele ficar mais de mês em viagem e nem assim a gente se esquecia da cara dele, por causa do nariz, chato como o de um lutador. Bastava lembrar o nariz e o resto se desenhava no pensamento.
- Vamos com essas pedras!
Por que falava assim comigo, tão danado? As pedras, eu as sentia dentro do peito, inamovíveis.
- Não posso, estão enterradas.
- Ah, Moleza.
Meteu as màos na terra e as arrancou uma a uma. Carreguei-as até o caminhão, enquanto ele se embrenhava no capinzal para pegar o alecrim.
- Pai, pai, o caminhão tá afundando!
A cabeça dele apareceu entre as ervas.
- Não vê que é a água que tá subindo, ô pedaço de mula?
E riu. Ficava bonito quando ria, os dentes bem parelhos e branquinhos.
fragmento do conto Idolatria, Sergio Faraco.
..........................
Essa história me lembra muito uma outra, que aconteceu na minha infância: a ida à festa de casamento de uma prima de minha mãe, no campo. Tínhamos um Chevrolet, verde também, que meu pai chamava de auto. Durante a pequena viagem, derrapamos várias vezes pela estrada de chão: o pai , que não era muito afeito à direção dizia que tinha muita areia solta por lá. (Disse isso muitas vezes, querendo, quem sabe, convencer a si mesmo.) Demoramos um pouco para chegar, no entanto para nós, pequenos, tudo era diversão. Estávamos esfomeados, e eu nunca comi tanta bolacha d'água na minha vida, mas essa é outra história.
- Caminho do diabo!
Nosso Chevrolet era um um trinta e oito de carroceria verde-oliva e cabina da mesma cor, só um nadinha mais escura. No pára-choque havia uma frase sobre amor de mãe e em cima da cabina uma placa onde o pai anunciava que fazia carreto na cidade, fora dela e ele garantia, de boca, que até fora do estado, pois o Chevrolet não se acanhava nas estradas desse mundo de Deus.
Mas o caminho era do diabo, ele mesmo tinha dito. A pouco mais de uma légua de Nhuporã o caminhão derrapou, deu um solavanco e tombou de ré na valeta. O pai acelerou, a cabina estremeceu. Ouvíamos os estalos da lataria e o gemido das correntes no barro e na água, mas o caminhão não saiu do lugar. Ele deu um murro no guidom.
- Puta merda.
Quis abrir a porta, ela trancou no barranco.
- Abre a tua.
A minha também trancava e ele se arreliou:
- Como é, ô Moleza!
Empurrou-a com violência.
- Me traz aquelas pedras. E vê se arranca um feixe de alecrim, anda.
Agachou-se junto às rodas e começou a fuçar, jogando grandes porções de barro para os lados. Mal ele tirava, novas porções vinham abaixo, afogando as rodas. Com a testa molhada, escavava sem parar, suspirando, praguejando, merda isso e merda aquilo, e de vez em quando, com raiva mostrava o punho para o caminhão.
O pai era alto, forte, tinha o cabelo preto e o bigode espesso. Não era raro ele ficar mais de mês em viagem e nem assim a gente se esquecia da cara dele, por causa do nariz, chato como o de um lutador. Bastava lembrar o nariz e o resto se desenhava no pensamento.
- Vamos com essas pedras!
Por que falava assim comigo, tão danado? As pedras, eu as sentia dentro do peito, inamovíveis.
- Não posso, estão enterradas.
- Ah, Moleza.
Meteu as màos na terra e as arrancou uma a uma. Carreguei-as até o caminhão, enquanto ele se embrenhava no capinzal para pegar o alecrim.
- Pai, pai, o caminhão tá afundando!
A cabeça dele apareceu entre as ervas.
- Não vê que é a água que tá subindo, ô pedaço de mula?
E riu. Ficava bonito quando ria, os dentes bem parelhos e branquinhos.
fragmento do conto Idolatria, Sergio Faraco.
..........................
Essa história me lembra muito uma outra, que aconteceu na minha infância: a ida à festa de casamento de uma prima de minha mãe, no campo. Tínhamos um Chevrolet, verde também, que meu pai chamava de auto. Durante a pequena viagem, derrapamos várias vezes pela estrada de chão: o pai , que não era muito afeito à direção dizia que tinha muita areia solta por lá. (Disse isso muitas vezes, querendo, quem sabe, convencer a si mesmo.) Demoramos um pouco para chegar, no entanto para nós, pequenos, tudo era diversão. Estávamos esfomeados, e eu nunca comi tanta bolacha d'água na minha vida, mas essa é outra história.
sábado, 5 de dezembro de 2009
Asa Morena
Me faz pequena, asa morena
me alivia a dor,
aliviando a dor que mata
me faz ser teu amor
Me toma no crescer
de um beijo muito louco,
me implodindo aos poucos
no universo a desvendar
a vastidão do teu amor.
Me toma sem pensar
num gesto muito forte
unindo o sul e o norte do meu corpo,
frágil corpo com a mais
pura emoção.
Me toma no crescer
de um beijo muito louco,
me implodindo aos poucos
no universo a desvendar
a imensidão do teu amor
Me faz pequena, asa morena...
..................
Zé Caradípia
(Putz, hoje eu cantei essa música com toda a vontade, com todo o gosto e toda a energia - de sobra - para as coisas que dão prazer. Não sabia que ese cara o Zé Caradípia, o autor da letra, mora ou morou no Laranjal: não barco ou pomar; na praia do Laranjal, e é pelotense como eu. Legal!)
me alivia a dor,
aliviando a dor que mata
me faz ser teu amor
Me toma no crescer
de um beijo muito louco,
me implodindo aos poucos
no universo a desvendar
a vastidão do teu amor.
Me toma sem pensar
num gesto muito forte
unindo o sul e o norte do meu corpo,
frágil corpo com a mais
pura emoção.
Me toma no crescer
de um beijo muito louco,
me implodindo aos poucos
no universo a desvendar
a imensidão do teu amor
Me faz pequena, asa morena...
..................
Zé Caradípia
(Putz, hoje eu cantei essa música com toda a vontade, com todo o gosto e toda a energia - de sobra - para as coisas que dão prazer. Não sabia que ese cara o Zé Caradípia, o autor da letra, mora ou morou no Laranjal: não barco ou pomar; na praia do Laranjal, e é pelotense como eu. Legal!)
terça-feira, 1 de dezembro de 2009
Lua cheia
Tem uma lua - de prata - bem cheia no céu
O barulho do vento nas folhas das bananeiras
escada acima, me leva, não para o quarto,
Para um outro lugar: estou no mar.
E amanhã... amanhã é outro dia.
O barulho do vento nas folhas das bananeiras
escada acima, me leva, não para o quarto,
Para um outro lugar: estou no mar.
E amanhã... amanhã é outro dia.
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