sábado, 21 de março de 2009

Canção do carcereiro

Aonde vais belo carcereiro
Com essa chave manchada de sangue
Vou soltar aquela que amo
Se ainda for possível
E que tranquei
Ternamente cruelmente
No mais secreto do meu desejo
No mais profundo do meu tormento
Nas mentiras do futuro
Nas bobagens das juras
Quero soltá-la
Quero que seja livre
Até para me esquecer
Até para ir-se embora
Até para voltar
E também para me amar
Ou para amar um outro
Se esse outro lhe agradar
E se ficar um dia sozinho
E ela só em idas
Guardarei apenas
Guardarei sempre
Nas minhas duas mãos côncavas
Até o fim dos dias
A doçura dos seus seios modelados pelo amor.


in POESIA DE TODOS OS TEMPOS - Jacques Prévert (POEMAS}

Leio os poemas de Jacques Prévert como se fossem crônicas.
Tem um quê de crônica (de quotidiano) a poesia desse poeta. Também por isso me agrada tanto.

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