domingo, 8 de março de 2009

A IDADE DA RAZÃO


- " Eu quisera muito que os olhos não me doessem tanto.
- Escute - disse Mathieu - , vou à farmácia comprar um comprimido. Mas estou esperando um telefonema, se me chamarem diga ao garçom que volto já. Por favor.
- Não, não vá - disse secamente. - Agradeço, mas não adiantaria. É o sol.
Calaram-se. " Estou me chateando ", pensou Mathieu com estranho prazer. Um prazer crispado. Ivich alisava a saia com as palmas das mãos, erguendo ligeiramente os dedos, como se fosse tocar piano. Suas mãos estavam sempre avermelhadas, porque ela tinha má circulação. Em geral ela as mantinha erguidas e as agitava de quando em vez para que empalidecessem. Não lhe serviam quase para pegar, eram dois idolozinhos gastos nas pontas dos braços..."
Fragmento do romance "A idade da razão", Jean Paul Sartre.


Esse é um dos meus livros preferidos e um dos melhores presentes que ganhei. Em outubro de 98 escrevi: "Foi um dos melhores livros que li. Tão bom que, quando terminei, e até mesmo agora sinto falta daquelas personagens tão de carne e osso. Principalmente a Ivich."
Escolhi o Sartre, nesse dia 08 de março, porque para mim ele é o autor que melhor conhece a alma feminina; adentra corpo e pensamento ( sabe os mistérios, conhece os segredos). E se não for, é o que melhor expressa. Com maior sensibilidade e perspicácia, como se ele próprio fosse uma mulher.
Foto by maira: escultura no Museu de Arte Moderna, Barcelona.

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