quarta-feira, 18 de março de 2009

O velho Barreiro


É sabido que as minhas viagens de ônibus e de trem rendem não só dores nas costas como também muitas histórias. Não sei porque cargas d'água as coisas estão se antecipando e o ponto de ônibus deixou de ser só o lugar, desprovido de qualquer graça, onde se espera esse meio de transporte coletivo para ser o ponto de encontro com pessoas, conhecidas ou não, e suas histórias, faladas ou não. Talvez eu esteja, de uns tempos para cá, enxergando melhor.
Hoje, bem cedo, encontrei o velho Barreiro... Não, não se trata da conhecida cachaça! (Aliás, não bebo - só um vinho, tinto seco, no frio e, às vezes, uma cerveja ou outra nos dias mais quentes do verão).
Seu Barreiro, meu vizinho de origem galega - de Pontevedra! - conta respeitável idade e mora faz pouco, bem em frente à minha casa. Descobri, além do nome curioso, que esse simpático senhor é um bom contador de histórias. Ele mal me viu e já na parada começou a puxar conversa. Entramos no ônibus e eu que estou sempre apressada costumo passar a roleta para ficar mais perto da saída.
No entanto, o olhar do velho era um pedido! Sentei-me a seu lado adivinhando uma boa conversa: mais que isso, ganhei uma bela história. Segundo ele, uma das que gosta de contar às netas.
Me contou o velho a história de um inquieto gafanhoto, que não contente com a beleza e fartura do lugar onde vivia, sonhava com uma nuvenzinha do céu.
Tem uma moral essa história, que eu não sei bem qual é (minha memória é falha, esqueço até do que não deveria esquecer). Para falar a verdade, a moral deixa para lá.
Ouvi muita história - de bicho, de assombração, de fadas; contadas por meus pais ou minha avó (que não sabia ler, nem escrever, mas contava histórias como ninguém) - quando pequena. Assim me senti, criança de novo, ouvindo as peripécias do gafanhoto sonhador...
Tal e qual o gafanhoto venço minhas montanhas: não perco a roleta, o trem, o horário do trabalho, a classe. Mas perdi a Hora, e o que era imperdível se perdeu. E muito da Alegria.
Restam uns poucos sonhos: são sonhos e como tal permanecem acalentados no sono.
(Sonho, às vezes, acordada. As quedas são duras - não há colchões, nem de nuvens, no chão.)

Um comentário:

Juliana disse...

Maira,
Parabéns pelo texto, gostei muito, sobretudo do final.

Abraço

Juliana (colega do curso do Projovem)