Minha namorada, cujos olhos têm propriedade para ver o que é do mundo (flor, estrela, muros), também sabe - e muito bem - contar histórias. E contando, ela ensina.
Ontem, à hora do almoço, aprendi que, às vezes, ignorar é melhor que saber, e que, ao contrário do ditado, há bens que vêm para o mal.
Sua avó que teve quinze filhos, enquanto pariu, nunca visitara um consultório médico. Um tio-avô analfabeto que ela tinha como pai era quem trazia à luz as pequenos Mancini.
Foi contrariando as estatísticas que seus rebentos nasceram e cresceram saudáveis. E assim ela também ia se mantendo.
Um dia, o útero tão solícito cansou. Aproveitando-se desse descuido, um pequeno tumor começou a trabalhar no seu ardiloso intento. Primeiro, uma dorzinha surgiu aqui, depois ali, até que a matrona, preocupada, decidiu ir consultar.
Dona Santa Eduvirgens, cujo nome nada tinha a ver com a quantidade de filhos que tivera, foi, pela primeira vez, à ginecologista.
A doutora, formada na Capital e especializada no exterior, após alguns exames e da melhor forma possível, deu-lhe a notícia:
- A senhora tem um câncer em estágio avançado, Dona Santa - falou com voz embargada. Depois, continuou: - Sinto muito! Não há o que fazer.
Em casa, minha avó viveu mais dois meses - contou-me Bárbara - e, de acordo com ela mesma, tudo porque tinha ido ao médico.
Paulo Cezar Dias Rodriguez - in Premiados 2001 (Concurso Literário Felippe D'Oliveira)
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