terça-feira, 4 de agosto de 2009

ESTOU RECLINADO na poltrona, é tarde, o Verão
apagou-se...
Nem sonho, nem cismo, um torpor alastra em meu
cérebro...
Não existe manhã para o meu torpor nesta hora...
Ontem foi um mau sonho que alguém teve por
mim...
Há uma interrupção lateral na minha consciência...
Continuam encostadas as portas da janela desta
tarde
Apesar de as janelas estarem abertas de par em par...
Sigo sem atenção as minhas sensações sem nexo,
E a personalidade que tenho está entre o corpo e a
alma...

Quem dera que houvesse
Um terceiro estado pra alma, se ela tiver só dois...
Um quarto estado pra alma, se são três os que ela
tem...
A impossibilidade de tudo quanto eu nem chego a
sonhar
Dói-me por detrás das costas da minha consciência
de sentir...
As naus seguiram,
Seguiram viagem não sei em que dia escondido,
E a rota que deviam seguir estava escrita nos ritmos,
Os ritmos perdidos das canções mortas do
marinheiro de sonho...

fragmento do poema "A Casa Branca Nau Preta", Álvaro de Campos.
(eu adoro. Acho lindo demais! Amo esse poema e esse Fernando Pessoa!)

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